03 março 2011

Não sejas esquisita!

"Aos 30 anos era capaz de rejeitar um homem sentado na outra ponta da sala sem sequer lhe ter dito «olá».

Meias foleiras. Sapatos deselegantes. Sobrancelhas farfalhudas. Camisa hipócrita. Pescoço irritante. Tinha uma capacidade especial para a rejeição, só comparável ao meu outro talento: o de ser capaz de me apaixonar por um homem sentado na outra ponta da sala sem sequer lhe ter dito «olá». Óculos giros. Queixo atraente. Vamos chamar aos nossos filhos Anna e Bill e viver numa casinha amarela com lilases no quintal.

Os homens caçam. As mulheres fazem compras. Depois de uma vida inteira a percorrerem centros comerciais de 400 000 acres em busca de qualquer coisa que lhe sirva, as mulheres aprenderam duas estratégias básicas no que toca ao amor: ou rejeitam imediatamente, ou investem vários anos na tentativa de fazerem resultar uma relação.

A relação dos homens com o amor e o universo é diferente, porque sabem quanto pesarão no dia seguinte. As roupas servem-lhes sempre. As roupas que usam de manhã são as mesmas que usam à noite. Isto dá aos homens um sentido de ordem e previsibilidade que a maioria das mulheres nem sequer compreende.

As mulheres encontram-se permanentemente em fase de transição.

(…)

Ainda que os nossos corpos não estivessem sempre a mudar de peso e formato, a verdade é que as roupas femininas não são feitas para nos servirem. Quatro vestidos de tamanho M podem servir a quatro corpos completamente diferentes, desde os mais magros aos mais avantajados. É sempre preciso experimentar tudo. É sempre preciso alterar tudo. O vestido até serve, mas tem de ser encurtado, alargado na cintura, ajustado nos ombros…

(…)
Na aquisição de cada peça de vestuário há que ter sempre em mente o factor da flutuação humana. As calças que comprei antes do almoço de 3ª feira terão alguma coisa que ver com a forma do meu corpo no serão de 6ª feira?
Vou ter de despir o casaco durante o filme de 2 horas e meia, durante as quais planeio beber Coca-Cola e comer pipocas – o que terei de evitar comer ao pequeno-almoço para não arruinar completamente o meu look?
É esse tipo de coisas que as mulheres introduzem no amor.
São essas considerações que as ocupam quando entram numa sala e olham em seu redor. Quem poderá ser um bom candidato depois de 2 ou 3 pequenas alterações? Quem poderei atrair se alterar 2 ou 3 pequenas coisas em mim própria? Quem poderá ser o namorado ideal depois de uma revisão geral a ambos? As mulheres não partem para uma relação com a intenção prévia de mudarem os homens. Estão simplesmente habituadas a alterar coisas de modo a que lhes sirvam. É natural que olhem para um homem interessante e partam do princípio de que podem mudá-lo, acrescentando-lhe meia dúzia de acessórios, para que combine com a vida delas.

Tudo isto poderia parecer superficial se essas mesmas tendências não inspirassem as mulheres para as mais profundas lealdades e duradouras relações:
A total dedicação a uma determinada versão do namorado que ninguém, nem mesmo ele próprio, chegou a conhecer…
A convicção de que, com algum tempo e esforço, poderemos fazer sobressair o artista sensível que um dia vislumbrámos sob aquela carapaça de fanático pelo futebol…

A nossa fé imorredoura num certo ideal de relação que acreditamos podermos alcançar um dia…
As nossas andanças pelos centros comerciais ensinaram-nos a comprar por impulso uma blusa encantadora e a deixar para depois a criação de uma relação com ela; ensinaram-nos a passar por 60 000 blusas medíocres sem sequer pararmos para lhes dizermos «olá».

Dedicação eterna ou rejeição automática.

Sabemos de antemão o esforço que iremos investir numa relação. Na verdade, as mulheres não são assim tão esquisitas nas escolhas. Têm é pouco tempo."
BD Cathy - Amor, Cathy Guisewite

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